terça-feira, 9 de agosto de 2011

Dica de sobrevivência

Há muitas coisas a ter em conta para nos mantermos física e psiquicamente saudáveis. Mas acho que vou falar só da parte psíquica, porque da outra já todos sabemos tudo de cor e salteado, mesmo que não façamos nada do que deve ser feito.

Regra de Ouro: não ligar ao que os outros pensam de nós.

Eu sei, eu sei, é difícil. É difícil esquecer aquele almoço em que tivemos mais de meia hora com uma alface nos dentes e ninguém nos disse nada. É difícil deixar de lado aquela insegurança quando achamos que estamos gordos. E é difícil não nos irritarmos quando somos contrariados e quando somos confrontados com o facto de estarmos mais gordos. Ou até com o facto de termos uma alface nos dentes, ainda que fiquemos mais irritados ainda quando não nos avisam disso.

É difícil sentirmos que fomos mal interpretados, que aquela piada parva que dissemos a não sei quem no meio de um jantar, na maior das ingenuidades, se tornou numa verdadeira batida de frente. Minha e de quem teve de suportar a piada.

É difícil depois ficarmos quietos, sem pedir desculpas e arranjar todos os argumentos possíveis e imaginários para que a piada venha de facto a ser só uma piada e não um pecado capital. E é cansativo também.

Não discordo de que devemos adaptar-nos uns aos outros, da melhor forma, mas como nem sempre é fácil, nem justo para nós mesmos, fugir à nossa própria natureza, nem sempre correspondemos da melhor forma às mais diferentes pessoas.

E a solução mais sensata é a de não pensarmos mesmo em nada disso. Já tinha descoberto essa solução, mas nunca a tinha posto em prática... basicamente porque não é fácil de se por em prática. Parece confortável, e torna-se confortável com o tempo, mas no início é aquela luta clássica. Não queremos nunca, num modo quase egoístico, que alguém tenha má impressão de nós... mas isso... cansa...
 
Resolvi que não vou mais preocupar-me com o que a vizinha do lado pensa dos meus ténis encardidos (bem, isso nunca foi uma preocupação para mim, mas serve de exemplo). Não me vou preocupar com o que as pessoas pensam das minhas piadas, mais ou menos secas, mais ou menos agudas, mais ou menos inconscientes. Não me vou mais preocupar com o aquele "Bom dia" que não dei, nem com as expectativas que têm sobre mim, mais ou menos frustradas, deste ou daquele. Somos o que somos. Ainda que possamos controlar o mau feitio, não podemos controlar a ironia. Eu não consigo. E até acho que isso tem tudo a ver com bom feitio.

Que mal há em rir-me de um gajo vestido com uns calções justos e t-shirt cor-de-rosa que indaga numa voz histérica "Onde está a minha pochete?". Não é por ter alguma coisa contra os gays, aliás não tenho nada, é só porque essa situação em particular é simplesmente cómica, quase a roçar o ridículo. Mas o melhor que essa pessoa pode fazer é ignorar o que eu penso ou acho dela! (Mas para que não haja dúvidas, este momento é fictício... mas lá estou eu a justificar-me... ).

O Manel acha que eu sou convencida? A Margarida acha que o Manel é feio? A carla acha que o Ricardo não tem estilo? O Ricardo acha que a Carla não sabe ser oportuna? Whatever... As pessoas são todas diferentes.

Não nos é possível sair da perspectiva limitada do nosso eu individual e entrar em outros semelhantes ou completamente antagónicos.

Façam o vosso melhor, mas nunca se esqueçam que acima de tudo, o importante é estarmos em sintonia connosco mesmos.

sábado, 9 de julho de 2011

pela Estrada Fora

Isto de andar para cima e para baixo com uma cabeça em anexo, é uma treta. Isto de termos o poder de pensar, reflectir, supor, interpretar, concluir, falar, esbracejar e chorar, é uma treta. Nós somos tão penalizados por termos inteligência como as moscas terem atracção por aquelas grelhas que delas fazem churrasco. E até para se nascer cão, é preciso ter sorte. Há os vagabundos maltratados e os príncipes da mamã.

Este mundo é uma espécie de exame de geometria descritiva. Não entendemos a matéria, mas decorámos os passos para passar na disciplina que, mais provavelmente, não nos vai levar a lado nenhum. À vida também não sabemos porque a temos, mas acostumamo-nos a ela e batalhamos nos assuntos terráqueos como guerreiros e, no fim, o mais provável é também não sabermos o propósito de nenhum deles.

Mas se calhar é aí que está o segredo: em não entender nada. Viver.

" Mas nessa altura dançavam pelas ruas, quais fantoches febris, e eu trotava atrás deles, como toda a vida fiz no alcanço das pessoas que me interessam, porque as únicas pessoas autênticas, para mim, são as loucas, as que estão loucas por viver, loucas por falar, loucas por serem salvas, desejosas de tudo ao mesmo tempo, as que não bocejam nem dizem nenhum lugar-comum, mas ardem, ardem, ardem como fabulosas grinaldas amarelas de fogo-de-artifício a explodir, semelhantes a aranhas, através das estrelas e, no meio, vê-se o clarão azul a estourar e toda a gente exclama: Aaaah!"

in Jack Kerouac - Pela Estrada Fora.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Para aqueles que gostam de escrever.

Eu gosto de escrever. E isso traz em anexo um problema: falo menos.

Quando se escreve podemos pensar, com tempo, naquilo que queremos dizer, descrever exactamente aquilo que sentimos, por as vírgulas e as pausas nos sítios certos. Podemos voltar atrás a apagar e voltar a escrever e rescrever. Escolher as palavras ideais, lê-las e editá-las, não ao nosso gosto, mas ao nosso sentido, e dizer, claramente, o que queremos que os outros entendam. Mas será isso um defeito? Escolher a via do lápis, do papel ou do computador, em detrimento de uma presença transparente?

Bem, não é uma questão de ser-se falso, cínico ou teatral. A questão é se sabemos demonstrar, de facto, aquilo que sentimos... através do gesto, das palavras ditas, das expressões, da atitude. Cada vez mais percebo que aquilo que mostramos ser nunca é aquilo que de verdade somos. Ou porque somos cheios de artimanhas ou porque cada pessoa vai entender de uma forma muita pessoal a nossa mensagem. Mesmo que essa mensagem tenha um sentido único, cada um interpretará à sua maneira o seu significado. E no fim, temos várias versões de nós mesmos a passear pelo mundo: aquilo que de facto somos, aquilo que a nossa mãe acha de nós, aquilo que cada amigo e cada familiar entende para si mesmo ser a verdade.

Tenho a certeza que se todos nós nos filmássemos durante uns dias, quando nos víssemos não íamos reconhecer aquela pessoa que, por acaso, somos nós mesmos. Deve ser um choque e tanto. Íamos ver de fora a pessoa que os outros vêm, mas que nos é impossível ver dessa perspectiva.

E com isto quero dizer que mais vale não levar nada a sério, porque no fim do dia, aquilo que realmente importa é ser feliz e fazer felizes todas essas pessoas que nos confundem e que não entendemos no seu âmago profundo, mas de quem gostamos e precisamos para continuar a viver.

Não sei se algum dia vou conseguir atingir esse estado mágico de transparência, mas também não sei se essa transparência vai ser entendida sempre da mesma maneira. Só sei que a escrever, consigo por as virgulas e as pausas nos sítios certos. Posso voltar atrás a apagar e voltar a escrever e rescrever. Escolher as palavras ideais, lê-las e editá-las, não ao meu gosto, mas ao meu sentido, e dizer, claramente, o que quero que os outros entendam.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Fazendo o Walt Disney girar na própria tumba

Tenho vontade de processar o Walt Disney. Pena que o senhor já tenha morrido e nao possa ir a tribunal.

O problema é o seguinte: houve geraçoes inteiras a crescer com demasiadas fantasias. A minha ainda foi uma delas. Talvez pertença à última geraçao ingénua, mas nao tenho especial orgulho nisso. Acho que as crianças deviam ser ensinadas desde cedo a ver a realidade. E isso nao tem nada de infeliz, se a realidade for demonstrada como sendo uma coisa boa. As crianças podem continuar a ser crianças, mas pelo menos já estao mais alerta da realidade, porque rápido o contos de fadas se tornam em contos de bruxas porque crescemos demasiado dependentes da ficçao, e a ficcao é, como o próprio nome indica, ficçao. A sinceridade tornar-nos-ia a todos mais preparados para viver a vida em pleno, se desde um princípio fossemos instigados a conhecer a verdade, a saber lidar com ela e a sermos felizes incondicionalmente.

Comecemos pela demonstraçao de que todos esperamos pelo grande amor. As mil e uma histórias que nos contam o encontro afortunado de dois seres que se apaixonam têm o seu quê de mágico, e é uma mensagem válida, boa e bonita. Mas nao é totalmente honesta. Acredito que existam várias pessoas especiais e nao apenas uma. Nao acho no entanto que devessemos descartar-nos de uma pessoa sempre que nos fartamos dela para ir a correr atrás de outra nova, mas as relaçoes seriam todas mais facéis se nao houvesse tanto o sentimento intrínseco de obrigatoriedade, porque o 'para sempre' acaba por assustar. Se nao houvesse essa cultura do 'para sempre', acredito que as coisas até seriam, efectivamente, mais duradouras. Acredito que estariamos todos mais preparados para dar e receber amor.

Mais importante que isso, devia ensinar-nos, em primeiro lugar, a sermos felizes conosco próprios e nao a estar incessantemente na busca do príncipe encantado, ainda que haja à mistura uma vontade natural e fisiológica de procurar um par. Mas se nao soubermos ser felizes sozinhos, acredito que ninguém será feliz, mesmo ao lado da 'alma gémea'...

A cereja no topo do bolo é, claro está, o "e viveram felizes para sempre", porque depois o Walt Disney nunca mostra a realidade do dia-a-dia desse casal. Pressupomos entao que tudo será perfeito, nao haverá discussoes, nao haverá duvidas, nao haverá tristezas nem dias menos bons, porque eles vivem sempre felizes para sempre. Pressupomos tambem que nunca existem separaçoes, e que a separaçao é completa e inequivocamente um erro crasso.

É por essas e por outras que há tantas crianças a sofrer com o divórcio dos pais. Mesmo que os pais vivam uma separaçao saudavel e nunca deixem de dar atençao aos filhos, já houve uma quebra quase irrecuperável na cabeça infantil e formatada pelo "e viveram felizes para sempre". O pior mesmo é que sao raras as separaçoes saudaveis, porque os próprios pais nao sabem lidar com a imperfeiçao.

Vivemos obsecados com a ideia da perfeiçao, chateamo-nos facilmente com coisas sem importância, nao aprendemos a olhar o outro como uma parte de nós mesmos. Vivemos também obsecados com a ideia de que o eterno e permanente só existe com um casamento. Quando, na realidade, após conhecer uma pessoa e viver com ela momentos de terna alegria, o mais certo é que essa pessoa permaneça na nossa vida para sempre, independentemente de estarmos casados ou nao com ela, independentemente de termos, entretanto, encontrado um novo amor. Acredito profundamente que ninguém substitui ninguém.

No entanto, graças ou nao ao Walt Disney, tenho a tentaçao de dizer: o amor é bonito. Duas pessoas juntas formam um todo mais coeso. Mas ninguem é perfeito. A perfeiçao está nas nossas intençoes de sermos felizes e fazer alguem feliz, mesmo nos dias de chuva.

P.S. após ler o meu texto outra vez deparei-me com uma serie de erros que entretanto já corrigi. O castelhano está, sem dúvida, a atrapalhar o meu português. eheh

terça-feira, 5 de abril de 2011

Zelosus

A palavra 'ciúme' tem origem nas palavras zelumen ou zelosus, do latim, que por sua vez têm origem na palavra zelos, que significa ardor, fervor ou intenso desejo. Zelos vem da mesma raiz grega que deu origem às palavras castelhana, francesa e inglesa, celos, jalousie e jeaulosy, respectivamente.

Quando uma palavra existe é porque aquela acção, sentimento ou condição também existe de facto. E se essa palavra existe há milhares de anos, é fácil supor que essa mesma acção, sentimento ou condição também existe há milhares de anos. (Também é verdade que continuam imensas definições por atribuir, porque todos os dias encontramos uma nova tara ou um novo bicho, e também há depois palavras como 'gambuzino' para nomear um animal que simplesmente não existe, mas prevalece a ideia. Concluimos então que, embora o tal gambuzino nunca tenha sido visto nem apareça nas enciclopédias científicas, o um bicho fisicamente 'inexiste', mas na nossa fantasia ele é bem real e tem todo o direito a ser 'perfilhado'.)

Ciúmes, Celos, Jalousie, Jeaulosy... é aquela coisa que nos consome as entranhas, nos tira a fome, nos faz roer as unhas e arrancar uns quantos cabelos. E há quem diga que é uma doença, uma tara, um problema e um distúrbio. Sim.. será um distúrbio quando se passa o limite entre o real e o irreal e se começa a perder as estribeiras com coisas 'idiotas' como quando o nosso 'mais-que-tudo' diz um obrigado e sorri à menina da caixa registadora do Pingo-Doce ao receber o troco. Isso talvez não seja muito normal nem tão pouco saudável... e bastante enervante para quem tem de levar com a 'ciumeira'. Mas, de facto, sentir ciúmes é tão natural como beber água.

Diz o dicionário o seguinte "reacção complexa a uma ameaça preceptível a uma relação valiosa ou à sua qualidade". E eu não precisava ter verificado o dicionário para saber o significado exacto do sentimento ciúme. Ele apenas me deu uma definição num português mais pomposo, e não deixo de lhe ficar grata por isso. Nenhum de nós precisaria verificar o dicionário, de facto, porque todos nós já sentimos a tal coisa do ciúme e, tendo ou não um vasto leque de palavras para o descrever, o sentimento é parecido em todos nós.

Seria maravilhoso que não o sentissemos, porque apesar de ser uma coisa bastante humana (..a até animal.. porque se eu puser a minha cadela junto com a cadela do meu irmão, é observar a ciumeira que se instala porque ambas querem atenção! Mas de animais não vou falar, já que é outro mundo distinto), é uma das maiores ameaças à nossa liberdade. À liberdade de expressão de quem quer galantear meio mundo e à liberdade emocional para quem sofre com o medo da perda.

Zelos leva-nos imediatamente ao nosso verbo bem portugês 'zelar', zelar por algo que nos é querido. Zelar pelos momentos que nos fazem sentir bem. Zelar por aquilo que não queremos perder de maneira nenhuma, ou zelar por aquilo que, pensamos nós, devia ser só nosso.

E aqui entra outro conceito, o da 'possessão'. Se eu comprar uma casa, ela é minha por direito, mas o meu namorado ou a namorada do Zé da esquina não é uma propriedade. Já lá vai bem longinqua a época da escravatura, em que homens eram propriedades de outros homens, e, embora acredite que tudo o que acontece no mundo, por mais aberrante que seja, pode não ser mera coincidência, mas um processo longo e muroso de aprendizagem (Deus à parte, a natureza sempre soube o que fez) tal coisa nunca devia ter sequer acontecido.

Pode sentir-se ciumes sem necessariamente sentirmos um sentimento de posse. No nosso eu mais racional sabemos que ninguém é de ninguém, mas no nosso ser mais irracional, desejamos ferverosamente que não tenhamos de partir umas quantas pernas por vingança.

Mas com peso e medida, o ciúme também pode ser uma coisa boa. É a demonstração de que queremos aquela pessoa junto de nós, e isso fá-la sentir-se especial. Foram mais as vezes que me culpei por não sentir ciúme algúm do que as vezes que me culpei por senti-lo. E quando fui eu a razão do ciúme, o meu ego inchou-se.

Talvez um dia sejamos tão livres como um papagaio sem corda, voando ao sabor do vento, sem nada que nos prenda ao solo, mas até lá, certifiquem-se apenas que as vossas cordas são grandes o suficiente para poder dançar. Quanto mais livres nos sentirmos das ameaças constantes do mundo à nossa volta, seguramente seremos bastante mais felizes.

terça-feira, 22 de março de 2011

Sexualidade

Há umas decadas atrás era virtuoso manter a virgindade até ao casamento. Hoje em dia é uma vergonha chegar aos 18 anos ainda virgem.

Há uns anos atrás eu julgava que era perfeitamente idiota a filosofia que nos instiga a guardar essa nossa 'pureza' até à chegada do homem perfeito que nos levasse ao altar. Hoje em dia tenho uma ideia um pouco diferente.

Não concordo que tenhamos de esperar pelo casamento. Muitos de nós nem sequer almeja subir a um altar, envergando um vestido branco e flores de laranjeira nos braços. Eu não estou ansiosa por casar, e de virgem não tenho nada. Também não sou ninguém para concordar ou discordar, apenas dou a minha opinião.

Mas tenho em mim uma máxima: sexo sem amor não tem graça.

Estamos a habituar-nos desde cedo a vulgarizar o uso do nosso corpo. A dar a várias pessoas um pedaço de nós, tirando-lhe toda a sua virtude. É importante e é bom que guardemos certos momentos e certas intimidades para alguém especial. Quando digo especial, não me refiro àquele que nos vai levar ao altar, ou podemos esperar anos pelo pedido de casamento que nunca chega e ficarmos frutradas com isso, mas refiro-me sim a alguém que nos ame e nos queira bem. Alguém que no dia seguinte não nos vire a cara e finja que não nos conhece. Alguém que nos diga o quão bom é partilhar conosco momentos de ternura e paixão, culmine ou não em casamento.

Difícil é destinguir quem é que realmente nos ama e nos quer bem daqueles que só querem tirar vantagem sobre nós. E talvez por isso é importante esperar uns anos e crescer um pouco, até nos aventurarmos em camas alheias. Porque melhor que uma noite de sexo é saber que ninguém nos vai arrasar o coração. E duvido que aos 13 ou 15 anos tenhamos a perfeita noção daquilo que somos e daquilo que queremos e somos muito mais susceptíveis de viver um verdadeiro colapso emocional, principalmente se nos envolvermos com rapazes bem mais velhos. Ainda somos muito meninas, com muitos sonhos cor-de-rosa, por muito que digam que não.

Nada disto está relacionado com religião ou com moralismos. Ninguém tem direito de dizer a ninguém o que fazer, mas é o dever de todos alertar, principalmente os mais jovens.

Regra geral, e principalmente para as mulheres, quando nos envolvemos sexualmente com alguém, acabamos envolvendo-nos também a nível emocional. E quando no dia seguinte esperamos que o tal rapaz volte dizendo coisas bonitas e fazendo promessas de amor eterno e ele não volta e nem sequer se lembra do nosso nome, a coisa amarga.

O amor eterno é algo que mais tarde perceberão que tem muito de decisão e não só de sentimento, porque mais tarde ou mais cedo a paixão esfria, e o amor é algo que se constroi, dia após dia. Ou seja, tem de se decidir, sentimental e mentalmente, se se quer ou não construir esse amor ao lado de determinada pessoa. Mas esperar que nos digam coisas bonitas e nos façam sentir respeitadas é o mínimo aceitável. E por isso é essencial que saibamos com quem estamos. Com 13 ou 15 anos não se sabe com quem se está. Com 13 ou 15 anos nem nós sabemos quem somos.

E quando as consequèncias de uma noite de sexo são o surgimento de uma gravidez indesejada, com 13 ou 15 anos, estaremos diante de uma criança a ter outra criança.

Não vejo porquê a pressa de perder a virgindade a qualquer custo. Se é para que os nossos amigos nos respeitem mais, então eles não são verdadeiros amigos. Se é para nos sentirmos mais mulheres, vos digo que terão anos de sobra para serem mulheres e um dia até terão saudades da infância, que é bem mais curta que a vida adulta. Se é para conquistarem tal rapaz, saibam que um coração não é conquistado assim. Um coração desejoso de amar, não se vai importar se tiver de esperar um pouco mais.

Vivam consoante as vossas vontades, mas façam de tudo para acordarem todos os dias com aquela boa sensação de que ninguém nos vai arrasar o coração.

Ana Luelmo

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Espiritualidade

É uma pena que não exista um pacote à venda entitulado  "espiritualidade", que venha recheado dessa mesma graça. Um pacote no verdadeiro sentido do termo, desses que preenchem as prateleiras dos super-mercados. Um pacote com instruções anexas fáceis de seguir, que nos ajudasse a montar a vida, como se ela fosse um ármario do IKEA.

Livros há muitos, pessoas iluminadas também vão havendo umas quantas, mas o que eu gostava mesmo era que a espiritualidade se construísse apenas com um martelo e uns quantos pregos e..voilá. Depois era arrumá-la em algum canto, enquanto se usufruia da compra mais ou menos inconscientemente, e quando expirásse o prazo (se houvesse um prazo), iamos a correr comprar o novo upgrade. Porque se os computadores têm upgrades de dois em dois dias, a espiritualidade também poderia ter, porque senão também não havia emoção alguma nas nossas vidas. E já estou a imaginar as filas que se fariam aquando do lançamento desses novos upgrades. O Harry Potter teria os dias contados.

O problema dos livros e dos discursos é que eles não nos dão a solução (assim uma solução sem precisar passar pela equação e precisar lembrar que menos e menos é igual a mais), eles dizem-nos apenas de que temos de aceitar o Caminho. E perguntam vocês que é esse gajo.

O Caminho, com letra grande, esse grande sacana, é o aquilo que nos acontece e que nunca estamos à espera, é o inverso dos nossos sonhos e a antítese das nossas vontades. Na realidade, é o antípoda da nossa imaginação, mas é a ele que temos de aceitar e abraçar, como forma de aprendizagem. Pois, é assim que deve funcionar, mas só porque não temos alternativa.

O que era bom, mas mesmo bom, era poder agarrar nas nossas experiências vividas, coloca-las no photoshop e administrá-las à nossa maneira. Pôr cores coloridas, adicionar uma música, colar um sorriso onde fosse preciso... Ou ainda barrar as nossas torradas do pequeno-almoço não com manteiga, mas com generosidade ou, quiçá, coragem, acompanhadas com um suminho de alegria, e estávamos arrumados para o resto do dia (O álcool pode ter efeitos parecidos, mas a ressaca não vem nos meus objectivos vespertinos).

Mas depois a generosidade deixava de o ser, assim como a coragem, que perdia os seus tomates, deixava de ser coragem e a alegria seria apenas uma condição. Seria o mesmo que eu dizer que canto bem porque tenho um programa de som muito porreiro que me põe a cantar como a Byoncé.

Afinal de contas, parece-me adequado quando nos falam em "Caminho". Quanto mais não seja para experimentarmos a sensação de merecimento. Quanto mais não seja para experimentarmos o doce após a amargura.

Mas será o Amor, e todos as suas ramificações, conceitos intemporais e não transitórios? Não nos chega entender o Amor como o melhor caminho para viver, também queremos saber se é ele eterno...