quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Jogos de Computador

Eu ainda sou do tempo, não da televisão a preto e branco, porque essa já nasci vendo a cores, mas sim dos computadores de tela preta e letras amarelas. Aquele sistema operacional bem rudimentar. Alguém se lembra?Já havia jogos, claro. Mas a oferta não era tanta como a que há hoje em dia. A qualidade desses mesmos jogos era também inferior, o que os tornava menos aliciantes comparativamente aos jogos que existem hoje no mercado.
Eu só me lembro de jogar um que consistia num gato andando atrás de moscas e borboletas, que quantas mais apanhasse, mais pontos obtinha. Mas lembro-me muito melhor dos outros jogos, aqueles que fazia com os meus amigos no parque do meu bairro.
Jogávamos ao Polícia e Ladrão, aos Dinossauros ferozes e aos destemidos exploradores, brincávamos de esconde-esconde, à apanhada e às casinhas...E essas casinhas eram feitas de pedrinhas empilhadas e com ramos de árvore que teciam verdadeiras tapeçarias. Brincávamos na rua até ao final da tarde, víamos o céu por-se de todas as cores, laranjas, amarelos, lilases. Era maravilhoso chegar a casa bem cansada, depois de um dia a correr e a rir, a fugir de monstros imaginários e a descobrir tesouros de fantasia. Chegava cansada, tomava um banho quente e dormia. No dia seguinte ansiava por voltar à escola e encontrar com os meus amigos. E quando saíamos da escola, não íamos nunca para a frente de um computador ou televisão, íamos sim em direcção ao sol, nas nossas bicicletas ou nas nossas asas de "faz-de-conta".
Fui uma criança urbana. A minha casa era (e continua a ser) num 6º andar. O meu bairro é formado todo ele por prédios altos. Havia carros a passar e muita coisa a acontecer. Mas também tive a sorte de ter espaços verdes e muitos sítios encantados onde brinquei muito quando era criança.
Costuma dizer-se que o espaço que nos rodeia transmite-nos a sua energia, mas também é verdade que a fantasia de uma criança pode tornar qualquer espaço e qualquer energia num conto de fadas, ou num outro conto qualquer, aquele que lhe bem apetecer. Ser da cidade não me impediu de viver livremente a minha imaginação, nem impediu que me tornasse amante do ar livre e da natureza. Jogos de computador? Nunca foram a minha praia.
Ainda hoje eu e os meus amigos ficamos horas falando das brincadeiras que fazíamos e das coisas tolas em que acreditávamos, nas personagens que criávamos e nas fantasias que construíamos juntos. É muito bom relembrar esses momentos. E é muito bom continuar a manter estas relações depois de tanto tempo e continuar a ir ao mesmo parque onde hoje temos longos diálogos.
Eu quero viver o momento da forma mais intensa e valiosa possível. Não só para ser feliz no presente, mas para ser feliz no futuro, naquele dia em que vou olhar para trás, mais uma vez, e sorrir com as memórias que trouxe comigo. Quero ter oportunidade de lembrar da minha juventude, como estou agora a relembrar a minha infância. E em toda a minha vida, vou buscar ligar-me ao que mais importa, que são as relações humanas e aquilo que aprendemos uns com os outros, olhos nos olhos, mão na mão.
Os jogos e a televisão também ensinam. Mas nunca nos podemos esquecer que eles se baseiam na vida real. E só pode ser porque esta vida real tem, de facto, muito interesse a explorar.

Ana Luelmo (23), Lisboa, 17/07/2009